Consumo de cerveja deve voltar a crescer no Brasil em 2024, mas bebida deve ficar mais cara
Redução na produção de cevada e lúpulo devem impactar preços; outras bebidas alcoólicas também começam a ganhar destaque no país. Consumo de cerveja d...
Redução na produção de cevada e lúpulo devem impactar preços; outras bebidas alcoólicas também começam a ganhar destaque no país. Consumo de cerveja deve crescer este ano, mas bebida deve ficar mais cara Após ter registrado uma queda em 2023, o consumo de cerveja deve voltar a crescer no país neste ano. O movimento deve vir mesmo diante de um aumento de preços (entenda mais abaixo) e, segundo especialistas, acompanha o perfil cervejeiro dos brasileiros. Um levantamento realizado pela Brazil Panels em parceria com a Agência Conexão Vasques, por exemplo, indica que 61% dos brasileiros acima de 18 anos consomem cerveja. Desse total, quase um terço (32,8%) consome a bebida pelo menos uma vez por semana. “O mercado brasileiro é bem dinâmico. Em classes mais altas é valorizado o sabor, já em classes mais baixa, o consumidor é mais sensível ao preço do que qualidade. E as marcas tradicionais lideram o mercado, mas há um grande espaço para a chegada de novas marcas”, diz o presidente e fundador da Brazil Panels, Claudio Vasques. O avanço do consumo da cerveja vem após uma queda de 1,1% em 2023, segundo dados do Euromonitor. Para esse ano, a estimativa é de uma alta de 0,8%. “Tem muita coisa acontecendo no mercado de bebidas alcoólicas este ano. Mas cerveja é uma categoria resiliente e que deve crescer em 2024”, diz o consultor de pesquisas da Euromonitor International, Rodrigo de Mattos. Entre as categorias analisadas pelo Euromonitor, a cerveja é uma das bebidas alcoólicas mais consumidas entre os brasileiros, com mais de 14,6 bilhões de litros por ano. LEIA MAIS Saiba como é feita a cerveja sem álcool Lúpulo é 'parente' da cannabis e depende de luz artificial; g1 mostra como bebida é feita Cerveja Divulgação Brasil cervejeiro Vasques, da Brazil Panels, afirma que o perfil do brasileiro no consumo de cerveja se desenha por uma série de fatores. “Existe uma grande riqueza e diversidade no mercado brasileiro de cerveja. O consumo está muito ligado à situação econômica de cada região [do país] e essas diferenças refletem talvez na parte cultural, social ou até mesmo climática”, diz o executivo. Ainda de acordo com a pesquisa, as regiões do país onde os brasileiros consomem cerveja com mais frequência são Sudeste e Centro-Oeste, com cerca de 36% dos respondentes de cada região ingerindo a bebida no mínimo uma vez por semana. Em seguida veio o Nordeste, com 34,9% dos entrevistados. Vasques destaca, ainda, que parte do que explica a resiliência no setor é o papel da bebida no âmbito cultural do brasileiro. “A cerveja, na verdade, retrata uma transformação cultural. Ela deixa de ser apenas uma bebida e se torna um elemento de conexão social”, diz. “Podemos notar também que existe um consumidor que está cada vez mais exigente, tanto pelo preço quanto pela qualidade do produto. E um insight bem curioso, é que as mulheres valorizam muito mais a experiência sensorial do sabor da cerveja, do que um consumo por marcas mais tradicionais”, completa o presidente da Brazil Panels. Alta de preços à frente Segundo os especialistas, a volta do crescimento do consumo de cerveja no país deve vir mesmo com os sinais de que os preços do produto devem ficar mais caros à frente. Mattos, da Euromonitor, conta que as empresas têm enfrentado mais dificuldades de montar um plano de vendas. O clima, por exemplo, costumava influenciar mais o consumo de cerveja do país – quanto mais quente, mais favorável. Mas, dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) obtidos pelo Jornal Hoje, da TV Globo, em setembro, indicavam que o inverno de 2024 foi o segundo mais quente desde 1961, perdendo apenas para o ano passado. “Começamos a ver que não há mais uma sazonalidade desenhada e isso muda muito a estratégia das companhias”, diz o executivo. “Antes, havia uma estratégia clássica de reajuste de preços no início do verão, quando sabiam que existia um aumento de consumo. Existia também um movimento maior de produção, um giro mais rápido do produto nas gôndolas, e tudo isso muda nesse cenário. Agora é preciso um ciclo de produção constante”, completa Mattos. Além disso, outro ponto que pode influenciar nos preços da cerveja à frente é o aumento do custo do lúpulo e da cevada no Brasil e no mundo. O Brasil é um dos maiores produtores de cevada do mundo, mas tem reduzido sua área plantada do cereal ano a ano – e a produção parece estar cada vez mais pressionada. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), por exemplo, indicam que a projeção é de uma queda de 11,5% na área plantada de cevada no país em 2024. Já a produção do cereal foi estimada em 460,1 mil toneladas em setembro, uma queda de 8,1% em relação a agosto e uma alta de 13,4% ante o ano anterior. E não se pode esquecer que uma série de fatores climáticos prejudicaram as safras de cevada em 2023, prejudicando a base de comparação. No lúpulo, o cenário é bem semelhante. Dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês) indicam que o país — que é o maior produtor da planta no mundo — reduziu sua área cultivada em 18% neste ano em relação a 2023. Por fim, há o risco de um eventual aumento do dólar após as eleições norte-americanas, que também podem impactar pontualmente o custo de produção e, consequente o preço do produto. “Mas a cerveja é resiliente. Ainda temos uma expectativa de crescimento no volume consumido em 2024, apesar da inflação e da questão do custo, que já começa a impactar”, diz Mattos. Lúpulo da cerveja é 'parente' da cannabis e depende de luz artificial ao anoitecer no Bras Consumo de outras bebidas alcoólicas Apesar de a cerveja ainda ser a bebida alcoólica mais consumida no país, outras categorias também começam a se destacar. Dados da Euromonitor indicam que o maior crescimento no consumo veio dos licores amargos (bitters), como Campari e semelhantes. Nessa categoria, a projeção é de um aumento de 5,6% neste ano em comparação a 2023. Em seguida vieram os espumantes, com uma alta projetada de 5,4% na mesma base de comparação, seguido pelos vinhos rosês, com avanço de 3,2%. Veja a tabela abaixo. Do lado dos vinhos, Mattos explica que o produto viveu um período de queda acentuada após o crescimento acelerado visto durante a pandemia e que, agora, o consumo dá sinais de que deve ficar diferente à frente. “Começamos a ver um perfil diferente de importação. Os vinhos tintos voltam a crescer, mas os mais baratos. E os vinhos brasileiros, que a gente chamava de vinho de mesa, começam a ganhar espaço na casa dos brasileiros”, diz o consultor. Ele reitera, ainda, que também há uma “readaptação” de como o brasileiro consome vinho. “A gente saiu um pouco do padrão europeu de um vinho mais amadeirado e pesado, e começa a ir para vinhos que fazem mais sentido para o clima mais quente, como vinhos gelados e espumantes”, completa Mattos. De onde vem o espumante Mudança no perfil de consumo Ainda dentro da mudança de perfil do consumo, o consultor da Euromonitor destaca que há mais mulheres que desfrutam o mercado de destilados. Além disso, não é um consenso que a geração Z (nascidos entre 1995 e 2009) quer beber menos por questões de saúde. “Ela pode até beber menos, mas também tem uma renda mais apertada do que as outras gerações tiveram. É uma geração que está entrando no mercado de trabalho um pouco mais tarde e que começa a beber outros tipos de bebidas primeiro”, diz Mattos. Nesse cenário, a principal preocupação das companhias é a redução do consumo de bebidas por parte dos chamados millenials, aqueles que nasceram entre 1984 e 1995. “Uma das tendências de consumo que falamos para 2025 é sobre os millenials ficarem mais atentos à saúde para pensar em uma terceira idade mais saudável. Isso sim pode ser um problema no longo prazo, porque estamos falando do grosso da pirâmide etária”, acrescenta. Por fim, outro ponto de atenção para o mercado tem sido as mudanças demográficas no país, com residências cada vez menores – principalmente nos grandes centros urbanos. Isso porque, com a redução da metragem quadrada, também há uma diminuição do espaço disponível para armazenar bebidas dentro de casa. “O engradado e até o retornável clássico já começam a sentir problemas, não só pela mudança do perfil de consumidor, mas porque ele também não tem mais espaço para manter essas bebidas. Essa mudança demográfica e de como se estrutura a sociedade brasileira começa a criar pontos de atenção, principalmente de 2030 para frente”, completa.